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Em discurso do Estado da União, Obama prioriza classe média, combate ao terrorismo e embargo



Em seu sétimo discurso sobre o Estado da União, Obama disse que “o veredicto é claro”: os excelentes resultados de 2014 sepultam a grande crise iniciada em 2008, comprovam a eficácia da política econômica que ele comandou desde o primeiro mandato e abrem espaço para os EUA virarem a página com um pacote de ações de cunho progressista, que eleve os ganhos da base da pirâmide, com foco em corte de impostos, educação e redução da desigualdade. Ele batizou a abordagem de “economia da classe média”. E pediu ao Congresso para suspender o embargo a Cuba, além de autorização para expandir a ofensiva militar contra o Estado Islâmico e medidas que aumentem a segurança cibernética americana.

— Esta noite, viramos a página. Com uma economia em expansão, redução do déficit público, uma indústria renascida e uma florescente produção energética, emergimos da recessão mais livres para escrevermos nosso próprio futuro do que qualquer outra nação na Terra. Cabe a nós, agora, escolhermos quem queremos ser nos próximos 15 anos e nas décadas futuras — afirmou Obama, em tom que evocou o célebre anúncio “É manhã novamente na América”, da campanha à reeleição de Ronald Reagan, em 1984, um clássico da política americana.

Chance para todos desfrutarem riquezas

Para o presidente — que desafiou a oposição em vários trechos do discurso, ameaçando de veto propostas centrais na agenda republicana — a tradição dos EUA é se adaptar a novos tempos e enfrentar desafios contemporâneos. O atual, disse ele, é garantir que todos os americanos desfrutem das riquezas geradas pela maior potência do planeta, aproveitando indicadores como retomada de investimentos, redução do endividamento das famílias, geração recorde de vagas e a maior queda da taxa de desemprego em 30 anos:

— É disso que se trata a economia da classe média: a ideia de que este país se sai melhor quando todos têm sua chance, todos recebem seu quinhão e as mesmas regras se aplicam a todos — pontificou.

Para alcançar uma sociedade que gere oportunidades e segurança para todos, na qual as famílias tenham sustento digno, Obama delineou propostas que precisam do aval do Congresso. A Casa Branca prepara projeto de lei que reduz o pagamento de hipotecas para famílias de baixa renda e outro que subsidia 100% da anualidade de estudantes pobres em faculdades comunitárias, tornando o ensino gratuito. Outra iniciativa é a obrigatoriedade de licença-remunerada de sete dias para trabalhadores que precisem se afastar por motivo de doença.

A joia da coroa é um plano tributário de US$ 300 bilhões. Ele aumenta a taxação sobre bancos e os mais ricos (ganhos de capital, previdência privada etc) para financiar alívio de impostos para a classe média e a baixa renda, prevendo novos créditos e o aumento de deduções com educação e creche. O governo quer ainda prorrogar o programa de alívio do pagamento do crédito universitário e oferecer incentivos para a poupança visando à aposentadoria.

Obama também pediu mais uma vez que o Congresso aprove a elevação do salário-mínimo federal, congelado desde 2009 em US$ 7,25 a hora:

— Para qualquer um neste Congresso que se recusa a aumentar o salario mínimo, eu digo o seguinte: se você realmente acredita que pode trabalhar em tempo integral e sustentar uma família com menos de US$ 15 mil anuais, tente fazê-lo. Se não, vote para dar um aumento a milhões de trabalhadores árduos dos EUA.

Como os pontos foram divulgados ao longo da última semana, os republicanos já tiveram a oportunidade de se opor a eles — especialmente as medidas tributárias. Segundo Obama, porém, os princípios deste pacote são os mesmos que nortearam a política econômica que tirou os EUA da crise. Portanto, é hora de expandi-la, “fazer mais bem do que mal”, não de insistir em ideias que deram errado, nunca foram testadas ou revogam conquistas, como a reforma da saúde, a regulação de Wall Street e as medidas que salvaguardam imigrantes ilegais (a agenda do novo Congresso). Se esta agenda avançar, “ela receberá meu veto”.

— O veredicto é claro. A economia da classe média funciona. Expandir oportunidades funciona. E todas estas políticas continuarão a funcionar se a politica não atrapalhar — disse ele, que também pediu expansão dos investimentos em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento e mandato negociador de acordos de livre comércio. — Será que nos permitiremos ser classificados em facções e nos viramos uns contra os outros, ou vamos recapturar o senso de propósito comum que sempre impulsionou os EUA?
Secretários de Defesa, Chuck Hagel, e de Estado, John Kerry, acompanham Estado da União - JONATHAN ERNST / REUTERS No discurso, cuidadosamente elaborado para demonstrar que Obama não pretende ser um “pato manco” até janeiro de 2017, o presidente defendeu ainda sua opção de política externa (na qual a diplomacia tem papel tão importante quanto o militarismo), afirmando que a coalizão montada na ofensiva contra o Estado Islâmico (EI) prova que a liderança dos EUA no plano internacional continua inabalada.

Ele pediu que o Congresso aprove resolução autorizando o uso de força contra o EI — algo que havia dispensado no ano passado.

— Acredito num tipo mais inteligente de liderança americana. Lideramos melhor quando combinamos poderio militar e diplomacia forte, quando utilizamos nosso poder para construir uma coalizão, quando não deixamos nossos medos nos cegarem para as oportunidades que este novo século apresenta. É exatamente o que estamos fazendo agora. E, ao redor do globo, isso está fazendo diferença — afirmou.

Oposição: ‘propostas fora da realidade’

Obama também aludiu à invasão dos sistemas de computadores da Sony, que os EUA creditam na conta da Coreia do Norte, e à crescente ameaça que hackers representam para o país. Ele reiterou o pedido de colaboração ao Congresso:

— Nenhuma nação estrangeira, nenhum hacker pode ter a habilidade de derrubar nossas redes, roubar nossos segredos comerciais ou invadir a privacidade das famílias americanas, especialmente de nossas crianças — disse o presidente. — Se não agirmos, deixaremos nossa nação e nossa economia vulneráveis.

Ele também defendeu as medidas que constam da ofensiva de decretos e medidas executivas desde que os democratas perderam em novembro o controle do Senado para os republicanos: regras mais flexíveis para imigrantes ilegais, o acordo climático com a China e a retomada das relações diplomáticas com Cuba. Sobre o Irã, disse que vetará novas sanções — o que inviabilizaria negociações com Teerã.

— Nossa mudança na política para Cuba tem o potencial para pôr fim a um legado de desconfiança em nosso hemisfério; remove uma desculpa falsa para restrições em Cuba; apoia os valores democráticos; e estende a mão da amizade ao povo cubano. E este ano, o Congresso deveria começar a acabar com o embargo.

Os republicanos dariam sua resposta após a fala de Obama. A oposição escalou a senadora Joni Ernst, caloura eleita por Iowa em novembro. Mas o tom já fora mais do que antecipado.

— As propostas (de Obama) são tão desconectadas da realidade que cabe perguntar se seu discurso tem algum sentido — afirmava, já na segunda-feira, o chefe do Comitê Nacional do Partido Republicano, Reince Priebus.

CUBA

"Em Cuba, estamos terminando uma política que havia passado há muito de seu tempo de expiração. Quando algo não funciona por cinquenta anos, deve-se tentar algo novo. Nosso mudanças sobre Cuba tem o potencial de acabar com um legado de falta de confiança; acaba com desculpas malfadadas para sanções; apoia os valores democráticos; e estende a mão à amizade do povo cubano.

Este ano, o Congresso deveria começar a trabalhar na questão de levantar o embargo. Como Sua Santidade, o Papa Francisco, isse, a diplomacia é o trabalho de "pequenos passos. Eles deram nova esperança sobre o futuro em Cuba. E, depois de anos na prisão, estamos imensamente orgulhosos de que Alan Gross (empreiteiro preso em 2009 por contrabandear satélites em Havana) está de volta a onde merece. Bem-vindo, Alan."

FIM DA RECESSÃO

"Nós estamos 15 anos neste novo século. Quinze anos que começaram com o terros tocando nossas praias, que se desdobrou com uma nova geração lutando duas longas e caras guerras, que viu uma recessão viciante se espalhar pela nossa nação e pelo mundo. Tem sido, e ainda é, um tempo duro para muitos."

“Neste momento - com uma economia em crescimento, déficits em baixa, indústria a pleno vapor e franca expansão na produção de energia - saímos da recessão mais livres para escrever nosso próprio futuro do que qualquer outra nação na Terra. Cabe agora a nós escolher quem queremos ser ao longo dos próximos 15 anos e nas próximas décadas.”

CLASSE MÉDIA

“Será que vamos aceitar uma economia em que só alguns nos damos espetacularmente bem? Ou será que nos comprometemos com uma economia que gere aumento da renda e oportunidades para todos que se esforçam? O veredito é claro. Uma economia de classe média funciona. Expandir oportunidades é algo que funciona. E essas políticas continuarão funcionando, desde que a política não se meta no caminho.”

“Na verdade, em cada momento de mudança econômica de nossa história, este país tomou medidas ousadas para se adaptar às novas circunstâncias, e para garantir que todos recebam uma oportunidade justa. Criamos a proteção aos trabalhadores, a Segurança Social, o Medicare e o Medicaid para nos protegermos das adversidades mais severas. Nós demos para as escolas e faculdades de nossos cidadãos infraestrutura e a internet. Ferramentas necessárias para ir tão longe quanto o seu esforço puder levá-los.”

“Isso é o que a economia de classe média é - a ideia de que este país vai melhor quando todo mundo recebe sua oportunidade justa, todo mundo faz o seu quinhão, e todo mundo joga pelo mesmo conjunto de regras.”

DESAFIO TRABALHISTA AOS REPUBLICANOS

Mencionando que os EUA são o único país que não dá licença paga aos doentes, o presidente desafiou os Republicanos a proporem uma lei que resolva o problema: “Me enviem uma lei que dê a cada trabalhador americano a oportunidade de ter sete dias de licença por motivo de doença. É a coisa certa a se fazer".

A Casa Branca prepara projeto de lei que reduz o pagamento de hipotecas para famílias de baixa renda e outro que subsidia até 100% da anualidade de estudantes pobres em faculdades comunitárias.

PLANO FISCAL

O presidente pediu que o Congresso “feche as brecas” que permitem os ricos pagarem menos impostos. O principal eixo dessa proposta é taxar a herança em ações e outros títulos, por exemplo. O sistema atual beneficia quem tem esse tipo de ativo. Segundo a Casa Branca, o novo esquema poderia aumentar a arrecadação em US$ 300 bilhões. As propostas serão enviadas ao Congresso em “duas semanas”, disse Obama.

INTELIGÊNCIA

“Eu acredito em uma liderança americana mais inteligente. Lideramos melhor quando combinamos o poder militar com forte diplomacia; quando alavancamos nosso poder com a formação de coligações; quando nós não deixamos nossos medos nos cegarem para as oportunidades que este novo século apresenta. Isso é exatamente o que estamos fazendo agora. E ao redor do globo, isso está fazendo a diferença.”

NEGOCIAÇÃO NUCLEAR

O presidente pediu compreensão para a importância de negociar com o Irã para que o país não obtenha uma arma atômica e afirmou que a aprovação pelo Congresso — o que os republicanos, que dominam as duas casas, ameaçam fazer — só servirá para “apenas garantir a falha da diplomacia, isolando a América de nossos aliados e garantindo que o Irã comece seu programa nuclear Irã de novo".

ESTADO ISLÂMICO

"No Iraque e Síria, a liderança americana - incluindo o nosso poder militar - está impedindo o avanço do Estado Islâmico. Em vez de ficarmos nos arrastando para uma nova guerra no solo do Oriente Médio, estamos liderando uma ampla coalizão, incluindo nações árabes, para degradar e destruir esse grupo terrorista. Também estamos apoiando a oposição moderada na Síria que pode nos ajudar neste esforço, e ajudando as pessoas em todos os lugares que estão se levantando contra essa ideologia falida do extremismo violento.

Este esforço vai levar tempo. Ele vai exigir foco. Mas vamos conseguir. E nesta noite, convoco este Congresso a mostrar ao mundo que estamos unidos nesta missão passando uma resolução para autorizar o uso da força contra o EI."

INVASÕES CIBERNÉTICAS

"Nenhuma nação estrangeira, nenhum hacker, deve ser capaz de derrubar nossas redes, roubar nossos segredos comerciais ou invadir a privacidade das famílias americanas, especialmente as crianças. Estamos fazendo com que o nosso governo integre inteligência para combater ameaças cibernéticas, assim como temos feito para combater o terrorismo.

Nesta noite, exorto este Congresso a finalmente aprovar a legislação que precisamos para melhor responder à ameaça da evolução dos ciberataques, combater o roubo de identidade e proteger as informações de nossos filhos. Se não agirmos, vamos deixar a nossa nação e nossa economia vulneráveis. Se fizermos isso, poderemos continuar a proteger as tecnologias que desencadearam inúmeras oportunidades para as pessoas ao redor do mundo."

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