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Réquiem para Nelson Mandela



O mundo reverencia hoje e nos próximos 12 dias, Nelson Mandela. Ele morreu ontem em Pretória na África do Sul. Mandela é sem duvidas o maior símbolo de lutas, conquistas e vitórias da humanidade.
Orgulho-me de ser um dos poucos brasileiros que privou de sua intimidade. Quando o líder negro, que tinha passado 27 anos no cárcere na ilha de Robben, veio ao Brasil, no mês de agosto de 1991, as tratativas de sua viagem, passaram pelo Palácio do Itamaraty e também pela Fundação Cultural Palmares, à época vinculada a presidência da República. Fui nomeado pelo então presidente Fernando Collor no inicio de 91, como diretor da Fundação Palmares. Portanto, participei de forma efetiva das negociações com a assessoria de Mandela, para sua vinda ao Brasil, antes do líder se tornar presidente da República. O meu contato direto com Mandela e sua ex-esposa Winnie Mandela se deu, durante nossa viagem ao Estado do Espirito Santo, quando representei o governo federal. Na ocasião o Espirito Santo, era governado pelo afrodescendente Albuíno Cunha de Azeredo; por isso a razão do líder ter escolhido para conhecer, aquele Estado; a Bahia por ter maioria negra; São Paulo e Rio pelas suas importâncias e, Brasília que é capital administrativa de nosso país.
Vale ressaltar, que durante o trajeto de nossa viagem ao Espirito Santo, conversávamos; eu, Mandela e sua ex-esposa Winnie, quando ele nos disse: “Lá no meu país, apesar da segregação racial, que um dia esperamos acabar, o piloto de um avião como este que nos conduz ao encontro do governador Albuíno Azeredo, é negro; como também são negros muitos médicos, advogados, jornalistas e intelectuais. Nos hospitais do Brasil, vi alguns enfermeiros negros, mas raramente um médico. Espero que a minha visita contribua com avanço da negritude em cargos públicos e da iniciativa privada em seu país”, arrematou Mandela.
Quando chegamos em um helicóptero ao Estádio Engenheiro Alencar Araripe, conhecido como Estádio de Cariacica, localizado nos arredores de Vitória no Espirito Santo, quase 30 mil pessoas aguardavam o líder. Quando atravessamos o gramado do campo, em direção ao palanque onde o Mandela se apresentaria ao povo espírito-santense, passamos por um corredor humano formado por policiais. À frente, o governador Albuíno (PDT) seguia emocionado e abraçado com o líder Nelson Mandela. Da mesma emoção compartilhei com Albuíno, seguindo logo atrás abraçado com o ex-governador do Espirito Santo, Max Mauro do PDT, que também compartilhava da mesma emoção com a chegada de Mandela ao Estado que ele governou.
Diante de 30 mil pessoas, Mandela repetiu o que já tinha nos dito no avião: “Espero que minha visita contribua com avanço da negritude em cargos públicos e da iniciativa privada no Brasil, e que um dia a sociedade brasileira seja mais justa e igualitária.”
Após o evento no Estádio, fomos ao jantar na sede do governo do Espírito Santo, o Palácio Anchieta. Lá, tive a oportunidade de falar em nome do governo federal, quando ofereci como presente ao líder Nelson Mandela, o livro “A Mão Afro” (foto), que conta a história da contribuição do negro na construção do Brasil.
Mandela se elegeu como o primeiro presidente negro da África do Sul. Ele contribuiu efetivamente na mudança para melhor, com o rumo da história do Brasil e do mundo. 22 anos se passaram, depois daqueles dois dias em Vitória e Cariacica. A partir daí: Pelé, Gilberto Gil e Benedita da Silva se tornaram ministros. Joaquim Barbosa assumiu a presidência da Suprema Corte; as cotas para afrodescendentes fizeram uma revolução nas universidades brasileiras, o que será compreendido pela maioria no futuro. O Estatuto da Igualdade Racial, apesar de desfigurado, foi aprovado pelo Congresso Nacional e viabiliza alguns avanços sonhados por Mandela, Martin Luther King Jr, e a negritude brasileira. Dentre esses sonhos, recentemente a presidenta Dilma, assinou decreto para a implementação de cotas para afrodescendentes no serviço público. No mundo, o maior legado depois que Nelson Mandela saiu do cárcere e veio ao Brasil, foi sem dúvidas a eleição e reeleição de Barack Obama para presidência do país mais poderoso do planeta, os EUA.
Entendemos que Nelson Mandela cumpriu sua missão na Terra, e, de forma fantástica. Esperamos que suas atitudes se eternizem e que as palavras ditas por Mathin Luther King, sejam proféticas: “Certamente um dia, crianças de todo o mundo e de todas as etnias, andarão de mãos dadas e gozarão dos mesmos direitos e oportunidades”.
Que o Senhor bondoso, reserve um lugar especial para Nelson Mandela na eternidade!

Por: Walter Brito

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