Janot pode ser considerado favorito a permanecer no comando do Ministério Público por mais dois anos. Não exatamente pelo que produziu no cargo, mas pelo que passou a representar... Deve isso, em especial, a Eduardo Cunha e Renan Calheiros.
Um ano e quatro meses depois do seu início, a Operação Lava-Jato pode ser resumida pela exposição pública dos desmandos na Petrobras e a prisão da cúpula de empreiteiros e lobistas do país, além do sepultamento da carreira política de ao menos três deputados. Todas essas ações referem-se a envolvidos sem foro privilegiado, investigados e, em alguns casos, já condenados pela Justiça Federal no Paraná. No que tange aos parlamentares e senadores no exercício do mandato, além de ministros de Estado, nenhum foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) até aqui. Por ironia, a mesma PGR tem sido alvo constante de torpedos disparados, principalmente, pela dupla peemedebista que comanda o Congresso – Renan Calheiros (AL), no Senado; e Eduardo Cunha (RJ), na Câmara. Ambos insatisfeitos pela agressividade das investigações.
Até aqui, Janot não produziu qualquer resultado concreto contra os peso-pesados da política nacional envolvidos no esquema. Por ironia, a atuação na Lava-Jato, que poderia enfraquecer sua campanha pela recondução ao cargo, virou o principal trunfo do procurador na tentativa de permanecer no posto pelo próximo biênio. Os responsáveis pela “virada” no jogo foram exatamente os seus adversários no Congresso Nacional. A cada ataque da dupla Renan/Cunha, com o reforço “oportuno” de Fernando Collor, a disputa entre Janot e os colegas Raquel Dodge, Carlos Frederico Santos e Mario Bonsaglia pela PGR pende mais para a recondução do jurista mineiro.
A pouco mais de uma semana da eleição para a lista tríplice ao comando do Ministério Público, a única chance de Janot não ser reconduzido ao cargo é exatamente ser rejeitado pela própria categoria. Caso seja o mais votado para o posto pelos pares, o desgaste pela decisão recairá sobre o Senado. Ninguém acredita na hipótese de o Palácio do Planalto contrariar os votos de procuradores de todo país – a interpretação lógica é de que a atitude seria uma retaliação à Lava-Jato. Dilma Rousseff deve lavar as mãos e reconduzir o atual PGR. Caberá ao Senado confirmar a decisão. E aí Renan Calheiros terá uma encruzilhada à frente.
Se confirmar a ameaça feita reiterada vezes, de articular a rejeição de Janot, o presidente do Senado se arrisca a transformar o procurador em mártir. Em caso de sucesso, além de assumir o desgaste e a pecha de tentar atrapalhar a Lava-Jato, Renan ainda veria na PGR um substituto de Janot pressionado a denunciar os políticos investigados o quanto antes. O movimento ainda reúne outro risco. O de o peemedebista não conseguir a maioria para rejeitar o desafeto no plenário e sair desmoralizado do episódio – em um repeteco da aprovação de Luiz Fachin para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Por tudo isso, Janot pode ser considerado favorito a permanecer no comando do Ministério Público por mais dois anos. Não exatamente pelo que produziu no cargo, mas pelo que passou a representar. Deve isso, em especial, a Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Ironicamente são os dois seus principais cabos-eleitorais.
Fonte: Por Ivan Iunes, Correio Braziliense - 27/07/2015 - - 09:40:11
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